quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Enquanto me recupero

Estou agora me recuperando de uma cirurgia e, como não havia quem me assistisse durante o dia, vim pra casa da minha mãe que não tem internet e não tem televisão. Sem internet? Sem televisão?? Curiosamente, os dias têm até passado com certa velocidade. Como? Pois não. Contarei algumas coisas que observei.

Alimentação. Essa é mais do que hora de se alimentar bem. Sabe aquele papo de alimentação funcional... Parece funcionar mesmo. Trouxe para cá dois livros dos quais estou tirando ideias para alimentação. Tudo o que  favorece o humor e a imunidade e percebo uma grande ajuda. Minha ansiedade, por exemplo, fica por conta do quão boa ficará a vitamina de morango com banana que estou fazendo. Nada muito além disso, rs. Uma boa alimentação mantém nosso humor equilibrado e auxilia na recuperação.

O que fazer? Essa é a grande pergunta... Primeiro, interagir. Interagir, interagir e interagir. No caso, com minha mãe e com quem me acessa pelo Whatsapp  (sem internet, eu sei... Mas whats faz parte do pacote essencial). Uma boa conversa faz a gente perder a noção de tempo.

Leitura. Pra mim, o grande pulo do gato. Sabe aquele livro de Antropologia clássico que você estava esperando uma chance para ler? Se não for algo leve, de fácil compreensão (duvido), deixe-o em casa. Prefira aquele romance que você gosta e que já leu imas várias vezes. Dessa vez, eu vou de Moliere e Lewis Carrol. Escolha algo super tranquilo de ler.

Colorir. Estou amando. Me distrai por um bom tempo. Trabalha criatividade, imaginação... Descansa a mente. É ótimo.

Uma descoberta por dia. A cada dia você pode fazer uma descoberta (filosófica, empírica) e colocá- la em prática. No momento, estou aplicando formas de colorir para conseguir certos efeitos, mas poderia ser qualquer outra coisa. Acho que, por enquanto, é só.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Espelhos

Vejo na tua dor, a minha. E na minha dor, a tua.

Vivemos na era do "autismo emocional". Como bem disse um filósofo desta era pop, quando um chega para o outro e diz algo como "estou com gastrite", seu interlocutor retribui: "e eu, com úlcera ". O que está acontecendo?

Há quase nenhuma empatia entre nós, há quase nenhum "você também! ", como disse C.S. Lewis. Conversamos  com "outro", sendo que o "outro" é nosso próprio umbigo, é nosso eu. Vivemos como que em espelhos, enxergando reflexos e conversando conosco mesmo.

A difícil arte de dialogar. Dia = através. Logo = palavra. Tua palavra me penetra, percorre meu ser e me transforma. Essa transformação produz em mim um desejo de reagir e gera um pensamento que traduzo em palavras e as expresso para que você o entenda (ou não).

Não existe comunicação sem empatia. Não existe empatia sem amor. Que Deus nos ensine a amar, a nos solidarizarmos e então devemos recorrer a Paulo: "Alegrai-vos com os que se alegram. Chorai com os que choram."

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Reencontro

E então aqui
Fizeste-me ver novamente
O mesmo semblante
Neste instante
Reencontro

Reverbera o mesmo som
A mesma nota
O mesmo anseio, vontade
Verdade
Alívio
Saída
Cura

E converso com o salmista
Ora "elevo os meus olhos"
Ora emudeço em silêncio e a minha dor se agrava
E minha mente adoece

Uma voz, aguda, fraca
Uma senhora de bengala
Em todo seu fôlego grita
Pra que só eu consiga ouvir:
O castigo, o castigo...
É nossa paz
As pisaduras, pisaduras...
Nos curaram

E volto ao meu reflexo
Vestígios de dores
Temores
Que mudam de rosto
E saem do meu
E minhas rugas,
Que desde muito,
Pertencem ao Teu

E no meu rosto, minhas angústias
E nelas, Teu rosto

domingo, 30 de julho de 2017

Sobre TB e relacionamentos

Uma dura e triste realidade sobre o transtorno bipolar (pois é, ele de novo) é que ele pode ser o estopim de muitos relacionamentos fracassados. Já perdi amigo, namorados e, espero em Deus não perder mais ninguém.

Como evitar? Talvez não haja como evitar. Mas se seu esposo/a namorado/a o ama honestamente, então ele precisa de informações sobre a doença o quanto antes. Quanto mais informações confiáveis, melhor.

Entenda que o primeiro passo vc já deu (informar-se), mas e depois? Tente acompanhar o tratamento de seu cônjuge/namorado. Converse com ela/ele a respeito do assunto, pergunte como se sente, ajude-a a aliviar sua carga de estresse, até mesmo fazendo coisas por ele/ela.

E... saiba que, mesmo com tudo isso, pode ser que ele/ela entre em crise e vá precisar de você mais do que nunca. Saiba que atribuir culpa a um paciente TB em períodos de crise por suas ações pode, sim, ser um ato de covardia. Minha recomendação é que se está se relacionando com um bipolar, informe-se, informe-se e informe-se. Se não quiser proximidade saia o quanto antes. O rompimento de um relacionamento com um bipolar (seja qual for e por quanto tempo for) é terrivelmente danoso para ele/ela e só piora o quadro. Mas se já criou laços, então esta é sua grande oportunidade de exercer compaixão, misericórdia e amor genuínos.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Poderia falar, etc parte II

Depois que li a postagem anterior e tive algum feedback sobre o texto, senti que precisava de um ps. Longe de encerrar o assunto, há necessidade de acrescentar mais alguns itens à lista. Então, vamos lá.

Sono. É importantíssimo que, seja lá qual for o distúrbio, a pessoa durma bem. Uma boa noite de sono assenta o que vivemos durante o dia, repõe nossas energias e, acredito que é coadjuvante no processo de cura (que seria a estabilidade).

Cores. Não falei desse item antes,  mas é como no ambiente. Se vc passa a maior parte do tempo vestindo preto, é como estivesse num quarto semi-escuro. Prefira coisas leves, sempre.

Atividades e trabalho. Bem, o paciente com TB pode e deve buscar uma vida equilibrada e ativa, mas sempre respeitando seus limites. Se você é estudante e, além da escola, faz jiu jitsu, inglês, espanhol, surfa e ainda trabalha... Você pode não dar conta de tudo isso e precisar selecionar o que é mais importante e, ainda, você pode não conseguir dar conta daquilo que normalmente fazia. Um exemplo. Por  conta dos meus estudos, volta e meia tinha de lidar com autores considerados bem complexos. Duvido que agora eu conseguisse ter concentração e a capacidade de raciocínio de sempre pra ler Pierre Bourdieu, C.S Lewis ou mesmo algo mais concreto. Talvez seja oportuno ler coisas mais digestivas e viáveis. Dar à mente e ao corpo o tempo deles para voltarem ao que eram.
Acredito que, por hora, é o que tenho a acrescentar.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Poderia falar sobre qualquer coisa, mas...

Depois de séculos sem escrever (ok, ok, tô sempre falando isso :( ...  Cá estou. Muitos acontecimentos: review de filme (cheguei a separar até imagens para um post), descobertas sobre treinamento, ter um animal (seria até bem controverso), beleza e estética (tenho pesquisado muito isso), mas... De todos os acontecimentos, eu decidi falar de algo que falei muito pouco por aqui: bipolaridade. Por ser algo que tem me incomodado, que tem saltado os olhos... Que se tornou uma questão. Vamos ao início.

Que tenho eu a ver com transtorno bipolar? Bem, esse foi meu diagnóstico dado no início de 2012 (fatídico ano do calendário Maia). Como fui parar num consultório e por que recebi esse diagnóstico?
Vou precisar voltar um pouquinho antes... Eu morei  um ano no sertão da Bahia e depois de experiências muito ruins por lá e sem meta profissional que pudesse acontecer na cidade em que estava, tive a ideia de ir para Recife, pensei em trabalhar, abrir um negócio no mercado de entretenimento e artes e também retomar os estudos (a ideia seria fazer um doutorado). Fui com toda a sede ao pote e achando que ia fazer e acontecer. Mas, hein? Lembro que fui parar na emergência umas duas vezes. Primeira vez, algo que parecia físico mesmo, mas na segunda... Eu estava clinicamente bem, me receitaram um calmante fitoterápico e pronto. Dias depois... Eu manifestei sintomas mais evidentes de mania (depois explico o termo). Um primo, pastor e psicólogo, levou-me ao consultório de um amigo que deu o diagnóstico e me prescreveu estabilizador de humor e antipsicótico. Esse tem sido meu tratamento até hoje.

Parecia incrível. Eu quase que podia sentir o remédio fazendo efeito. Mas voltemos ao que vim fazer aqui rs.

O que é bipolaridade? Pergunta complexa, mas... Eu diria que é tudo menos "ficar alegre numa hora e triste logo depois" rs. Guardando as proporções, alguns casos até tem um pouco disso rs... Mas, tentando esclarecer: o transtorno bipolar é um distúrbio de humor que faz com que o paciente sofra , basicamente, duas fases no seu humor: a mania  e a depressão. É bem possível também que estas fases ocorram com intervalos muito pequenos ou caracterizem um estado misto, mas não vou detalhar isto. Na mania, lembro de sofrer uma inquietação profunda, tinha necessidade de me movimentar, mexer, falar muito (muita extroversão), tinha muitos pensamentos de grandeza (acreditem, poderia pensar até que tinha superpoderes), pensamento acelerado e daí, muita dificuldade de dormir (dormia umas 4 horas e poderia até sair pra correr em plena madrugada) e agressividade. No dia seguinte, estava ainda mais elétrica. Sentia, como se diz em inglês, um "bliss", uma euforia que parecia sobrenatural. A fase da depressão... No meu caso, é algo assim: um olhar constante pro abismo, um aperto dilacerante no peito, incapacidade de raciocinar com clareza, desânimo, a vida monocromática. Há um desejo grande de reclusão e, não raro, muito cansaço e longas horas de sono.

O transtorno bipolar é crônico (ou seja, não tem cura) e se atribui, principalmente, à genética. Causas ambientais também podem contribuir à manifestação dos sintomas. O TAB, como também é conhecido, tem tratamento. O paciente que entra em uma crise, ao fazer uso da medicação e seguir corretamente o tratamento, consegue retomar sua vida normalmente, acredito que sem prejuízos. Vou dizer aqui, então, o que pode ajudar a sair desses momentos de crise.

Bem, há coisas que ajudam e outras que atrapalham o bem-estar de um bipolar (rima não intencional!! rs). Vou listar algumas delas, mas não, necessariamente, falando das boas e das ruins. Aquilo que é bom ou ruim vai depender um pouco de cada um.

Coisas que mais me ajudaram (ou não):
  • Medicação. Sei que tem gente que detesta tomar remédio (não é o meu caso), mas quando você for ao médico e ele te prescrever algo, tome. Vai fazer muita diferença, afinal, o que te desestabiliza também é químico.
  • Acompanhamento psicológico. Medicação + terapia = psicoterapia. É muito importante ao longo do processo e mais ainda quando se está em crise. Procure um bom profissional, alguém que lhe provoque empatia (não confundir com "simpatia"), que seja viável para você (logística, custo). 
  • Atividade física. Pode parecer supérfluo, mas não é! Faz muita, muita diferença mesmo. Socialização, serotonina, endorfina. Eu estou fazendo hidroginástica, no momento. Escolhi porque amo água, amo a sensação de ser abraçada pela água, de ver a cor da água... Escolha algo que seja terapêutico para você, além de prazeroso.
  • Cinema e música.  Aí, pode ser bom e pode ser ruim. Se você está na depressão e resolve assistir "Dançando no Escuro" do Lars Von Trier... Amigo... Uma ponte pro suicídio. Não recomendo, rs. O mesmo pode ser dito pra música... Você está super inquieto e vai ouvir heavy metal? Não dá, né? Como a arte pode ajudar, então? Procure algo que te faça bem, que equilibre o seu humor e trabalhe sua psique.
  • Outras atividades. Se você tem um hobby que possa usar para trabalhar sua concentração (gosto de escrever, tocar, cantar, colorir, por exemplo), use e abuse. Tenha apenas o cuidado de fazer algo que não te estresse além da conta, mas que trabalhe sua psique.
  • Ambiente. Acredito que tanto para quem esteja na mania quanto para quem está na depressão, passar a maior parte do tempo em um lugar calmo, tranquilo, arejado e claro favorece, e muito, a um estado de espírito mais tranquilo e pacífico. Procure estar em ambientes assim ou se você mora em um lugar muito escuro e fechado, pense em como você pode tornar este lugar mais confortável para você.
  • Alimentação. Muitas pessoas nem se tocam sobre este item, mas alimentação também pode te ajudar bastante. Tente se alimentar bem, com calma, comida leve e saudável. Alguns alimentos, por exemplo, podem ajudar a equilibrar seu humor: morango e cenoura podem ajudar com a depressão. Ah! E beba bastante água, ainda mais se a medicação começar a interferir no seu metabolismo.
  • Vícios. Seja de qualquer tipo, afaste-se deles. E, se o vício vier, frequentemente, por influência de outras pessoas, considere reduzir ou mesmo afastar o contato com elas. E então, entrarei no próximo tópico.
  • Socialização. Vejo a maioria das pessoas dizerem que estar com família, amigos e outras pessoas ajuda. Hum... Na maioria das vezes, sim. Muito. Algumas pessoas vão, ainda que sem saber, te ajudar a equilibrar o humor. Mas outras podem deixar você ainda mais tenso, estressado ou triste. Isso pode acontecer com qualquer pessoa, até as que lhe forem mais próximas. Caso essa socialização não lhe favoreça, isto não significa que a pessoa seja boa ou ruim, mas que ela pode não estar sabendo lidar com você, ou mesmo, não ter informações suficientes a respeito do transtorno bipolar. Mas, algumas pessoas vão lhe ajudar muito. Preze por esses relacionamentos. Pra resumir, procure na terapia e até em quem você confia, saber discernir o que está sendo bom ou ruim para o seu bem-estar.
Acredito que com isso, eu posso concluir o texto. Espero ter ajudado e esclarecido algumas coisas. Gostaria de acrescentar um vídeo que achei hoje meio por acaso no ciberespaço. Achei bastante elucidativo e bem feito.





Ps: No momento, estou escrevendo no que parece uma crise branda, não sei ao certo. Pela manhã, estou sempre mais morosa, desanimada, sem forças... O dia acaba começando tarde. Ao longo do dia, vão surgindo mais disposição, ânimo e, à noite, parece ser o pico. Mesmo com a medicação, dificuldade para dormir e a cabeça a mil...