sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Um cobertor maior

 Lua Nova, janeiro de 2021.

 

Hoje quero escrever sem amarras. Quero escrever livre como um riacho descendo corredeira abaixo. Sempre me proponho a isso, nem sempre consigo, eu sei, mas hoje é necessidade, hoje é querência.

Nesta manhã, acordei muito mal. Estou desde ontem mal. Um sintoma emocional e físico que conheço muito bem: angústia. Se você é bipolar, deve conhecer bem esta velha companheira. Não tenho receita para evitá-la, mas se tivesse, pergunto-me se deveria fazê-lo (como aquela história de “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”). O que eu posso dizer é que não tem remédio pra isso.

Se por um lado, não há remédio... Você pode se perguntar por que estou escrevendo esse texto. De fato, não descobri a cura, mas este não é de todo um caso perdido e aqui me proponho a pensar no que faço quando estou neste estado.

Primeiro, não tente negar. É pior. Dói ainda mais. Reconheça e identifique o sintoma e apenas o saiba presente e parou por aí. Segundo, não “mergulhe” nele. Não o alimente, nem dê a ele mais do que o que ele precisa. Terceiro, procure se distrair. Se há algo que capture sua atenção, faça-o. Neste exato momento, eu estou escrevendo. Estou me concentrando em algo que cativa meu coração. Quarto, procure as pessoas que te assistem: médico, psicólogo, terapeuta... Tente manter um registro do seu humor e passa informações detalhadas sobre você para seu médico. Quinto, procure seus amigos. Não se isole. Sim, você terá seu momento de solitude (e não solidão), que é muito importante, mas evite dar oportunidade para a angústia te engolir.

Por fim, nessas horas, lembro sempre de quem eu sou e em quem eu acredito e não há como fugir deste pensamento. Há um dito popular que diz “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Não sou muito fã de ditos populares, mas não é por isso que considero este tão falacioso. Lembro de Paulo, Jó e Davi, que passaram por tantas provações. Não. O cobertor deles era pequeno, bem pequeno. Paulo pediu a Deus a cura e Ele lhe respondeu: “a minha graça te basta”. O que isso me diz? Que nossos cobertores são pequenos e finos até, mas que, ao recorrer a um pai bondoso e poderoso, Ele nos dá um cobertor potente e nos mantém aquecidos até que a noite passe. Essa é a minha certeza. Esse é o motivo pelo qual escrevo esta manhã e sei que, embora eu não tenha forças pra lutar contra a angústia, Deus tem. Ele é a minha armadura.

Espero ter despertado sua consciência para uma luta mais justa e menos desigual contra o transtorno e a angústia e que você saiba que, se por um lado, não há cura para todo mal, há remédio para cada tipo de dor.

 

Até a próxima lua.