sexta-feira, 30 de junho de 2017

Poderia falar sobre qualquer coisa, mas...

Depois de séculos sem escrever (ok, ok, tô sempre falando isso :( ...  Cá estou. Muitos acontecimentos: review de filme (cheguei a separar até imagens para um post), descobertas sobre treinamento, ter um animal (seria até bem controverso), beleza e estética (tenho pesquisado muito isso), mas... De todos os acontecimentos, eu decidi falar de algo que falei muito pouco por aqui: bipolaridade. Por ser algo que tem me incomodado, que tem saltado os olhos... Que se tornou uma questão. Vamos ao início.

Que tenho eu a ver com transtorno bipolar? Bem, esse foi meu diagnóstico dado no início de 2012 (fatídico ano do calendário Maia). Como fui parar num consultório e por que recebi esse diagnóstico?
Vou precisar voltar um pouquinho antes... Eu morei  um ano no sertão da Bahia e depois de experiências muito ruins por lá e sem meta profissional que pudesse acontecer na cidade em que estava, tive a ideia de ir para Recife, pensei em trabalhar, abrir um negócio no mercado de entretenimento e artes e também retomar os estudos (a ideia seria fazer um doutorado). Fui com toda a sede ao pote e achando que ia fazer e acontecer. Mas, hein? Lembro que fui parar na emergência umas duas vezes. Primeira vez, algo que parecia físico mesmo, mas na segunda... Eu estava clinicamente bem, me receitaram um calmante fitoterápico e pronto. Dias depois... Eu manifestei sintomas mais evidentes de mania (depois explico o termo). Um primo, pastor e psicólogo, levou-me ao consultório de um amigo que deu o diagnóstico e me prescreveu estabilizador de humor e antipsicótico. Esse tem sido meu tratamento até hoje.

Parecia incrível. Eu quase que podia sentir o remédio fazendo efeito. Mas voltemos ao que vim fazer aqui rs.

O que é bipolaridade? Pergunta complexa, mas... Eu diria que é tudo menos "ficar alegre numa hora e triste logo depois" rs. Guardando as proporções, alguns casos até tem um pouco disso rs... Mas, tentando esclarecer: o transtorno bipolar é um distúrbio de humor que faz com que o paciente sofra , basicamente, duas fases no seu humor: a mania  e a depressão. É bem possível também que estas fases ocorram com intervalos muito pequenos ou caracterizem um estado misto, mas não vou detalhar isto. Na mania, lembro de sofrer uma inquietação profunda, tinha necessidade de me movimentar, mexer, falar muito (muita extroversão), tinha muitos pensamentos de grandeza (acreditem, poderia pensar até que tinha superpoderes), pensamento acelerado e daí, muita dificuldade de dormir (dormia umas 4 horas e poderia até sair pra correr em plena madrugada) e agressividade. No dia seguinte, estava ainda mais elétrica. Sentia, como se diz em inglês, um "bliss", uma euforia que parecia sobrenatural. A fase da depressão... No meu caso, é algo assim: um olhar constante pro abismo, um aperto dilacerante no peito, incapacidade de raciocinar com clareza, desânimo, a vida monocromática. Há um desejo grande de reclusão e, não raro, muito cansaço e longas horas de sono.

O transtorno bipolar é crônico (ou seja, não tem cura) e se atribui, principalmente, à genética. Causas ambientais também podem contribuir à manifestação dos sintomas. O TAB, como também é conhecido, tem tratamento. O paciente que entra em uma crise, ao fazer uso da medicação e seguir corretamente o tratamento, consegue retomar sua vida normalmente, acredito que sem prejuízos. Vou dizer aqui, então, o que pode ajudar a sair desses momentos de crise.

Bem, há coisas que ajudam e outras que atrapalham o bem-estar de um bipolar (rima não intencional!! rs). Vou listar algumas delas, mas não, necessariamente, falando das boas e das ruins. Aquilo que é bom ou ruim vai depender um pouco de cada um.

Coisas que mais me ajudaram (ou não):
  • Medicação. Sei que tem gente que detesta tomar remédio (não é o meu caso), mas quando você for ao médico e ele te prescrever algo, tome. Vai fazer muita diferença, afinal, o que te desestabiliza também é químico.
  • Acompanhamento psicológico. Medicação + terapia = psicoterapia. É muito importante ao longo do processo e mais ainda quando se está em crise. Procure um bom profissional, alguém que lhe provoque empatia (não confundir com "simpatia"), que seja viável para você (logística, custo). 
  • Atividade física. Pode parecer supérfluo, mas não é! Faz muita, muita diferença mesmo. Socialização, serotonina, endorfina. Eu estou fazendo hidroginástica, no momento. Escolhi porque amo água, amo a sensação de ser abraçada pela água, de ver a cor da água... Escolha algo que seja terapêutico para você, além de prazeroso.
  • Cinema e música.  Aí, pode ser bom e pode ser ruim. Se você está na depressão e resolve assistir "Dançando no Escuro" do Lars Von Trier... Amigo... Uma ponte pro suicídio. Não recomendo, rs. O mesmo pode ser dito pra música... Você está super inquieto e vai ouvir heavy metal? Não dá, né? Como a arte pode ajudar, então? Procure algo que te faça bem, que equilibre o seu humor e trabalhe sua psique.
  • Outras atividades. Se você tem um hobby que possa usar para trabalhar sua concentração (gosto de escrever, tocar, cantar, colorir, por exemplo), use e abuse. Tenha apenas o cuidado de fazer algo que não te estresse além da conta, mas que trabalhe sua psique.
  • Ambiente. Acredito que tanto para quem esteja na mania quanto para quem está na depressão, passar a maior parte do tempo em um lugar calmo, tranquilo, arejado e claro favorece, e muito, a um estado de espírito mais tranquilo e pacífico. Procure estar em ambientes assim ou se você mora em um lugar muito escuro e fechado, pense em como você pode tornar este lugar mais confortável para você.
  • Alimentação. Muitas pessoas nem se tocam sobre este item, mas alimentação também pode te ajudar bastante. Tente se alimentar bem, com calma, comida leve e saudável. Alguns alimentos, por exemplo, podem ajudar a equilibrar seu humor: morango e cenoura podem ajudar com a depressão. Ah! E beba bastante água, ainda mais se a medicação começar a interferir no seu metabolismo.
  • Vícios. Seja de qualquer tipo, afaste-se deles. E, se o vício vier, frequentemente, por influência de outras pessoas, considere reduzir ou mesmo afastar o contato com elas. E então, entrarei no próximo tópico.
  • Socialização. Vejo a maioria das pessoas dizerem que estar com família, amigos e outras pessoas ajuda. Hum... Na maioria das vezes, sim. Muito. Algumas pessoas vão, ainda que sem saber, te ajudar a equilibrar o humor. Mas outras podem deixar você ainda mais tenso, estressado ou triste. Isso pode acontecer com qualquer pessoa, até as que lhe forem mais próximas. Caso essa socialização não lhe favoreça, isto não significa que a pessoa seja boa ou ruim, mas que ela pode não estar sabendo lidar com você, ou mesmo, não ter informações suficientes a respeito do transtorno bipolar. Mas, algumas pessoas vão lhe ajudar muito. Preze por esses relacionamentos. Pra resumir, procure na terapia e até em quem você confia, saber discernir o que está sendo bom ou ruim para o seu bem-estar.
Acredito que com isso, eu posso concluir o texto. Espero ter ajudado e esclarecido algumas coisas. Gostaria de acrescentar um vídeo que achei hoje meio por acaso no ciberespaço. Achei bastante elucidativo e bem feito.





Ps: No momento, estou escrevendo no que parece uma crise branda, não sei ao certo. Pela manhã, estou sempre mais morosa, desanimada, sem forças... O dia acaba começando tarde. Ao longo do dia, vão surgindo mais disposição, ânimo e, à noite, parece ser o pico. Mesmo com a medicação, dificuldade para dormir e a cabeça a mil...