sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Carta a um incrédulo

O que vou escrever aqui é fruto de vivências, sofrimentos e, em particular, de alguns problemas de relacionamento interpessoais que me ferem. Estamos no deserto. Estamos a procura da estrela do oriente para que nos guie e nos leve aonde devemos estar. Nem mais longe, nem mais perto: exatamente onde devemos estar.

Preciso escrever uma carta. É uma carta para alguém incrédulo. Segue o texto.

Eu sei. Você não acredita mais. Você entrou no barco sem saber muito bem para onde ele ia, mas cá está. Vê-se em posição desconfortável, incômoda. "Não vim para que tenham paz". Se você acha que minha presença na sua vida é para lhe fazer mais feliz, para lhe dar paz... Bem, eu sei que sua presença na minha vida não é para isso. Posso até encontrar felicidade, alegrias, um certo sossego em algum relacionamento, mas... Certamente, o outro nunca será um "match" para meu padrão. Nunca ninguém se equipará ao meu padrão. Somos todos exigentes nesse sentido. Queremos todos felicidade plena, beleza plena.

Preciso ser honesta: esta felicidade plena não está em mim. Não está em você. Não está em qualquer outra pessoa porque... Somos reflexos. Reflexos! Pura imagem do que outrora fora pleno e belo ainda que sendo imagem. Não somos um fim em nós mesmos. Somos (ou deveríamos ser) placas sinalizadoras. Apontamos para o único ser supremo e pleno em amor que é Deus ou... Apontamos para a direção de tudo que não é Ele. Estamos sempre nesse jogo. Estamos sempre ora apontando para Ele, ora nos desfigurando.

Já teve a experiência de ganhar um objeto de decoração ou mesmo uma bolsa e fotografá-lo assim que ganhou e também muitos anos depois? Algumas coisas ficam tão diferentes que olhamos e pensamos "esta não é mais a bolsa que ganhei". Esta bolsa, este objeto perdeu a referência. Perdeu a beleza que espelhava outrora. Mas... Permita-me relatar uma experiência diferente.

Quando criança ganhei de minha mãe, um palhacinho. Um boneco de cabelos curtos de lã amarelo e muito gracioso. Lembrança cara de um momento feliz. Estávamos na Alemanha e eu passaria meu aniversário lá. Tenho este palhacinho até hoje (sim... Algumas coisas eu guardo! rs). Obviamente, não tem o mesmo viço de antes, mas... Curiosamente e muito curiosamente, olhar para ele me leva a contemplá-lo e, ao contemplá-lo, recupero em minha mente todos os momentos em que ele me serviu de consolo, de alegria. Algo peculiar acontece: ele se torna tão belo quanto antes.

A questão é que não somos padrões. Não somos os próprios padrões que criamos ou que gostaríamos de ser. Ao olhar para o outro, precisamos ver que este outro não é e nunca será nosso padrão. A boa notícia é que há, sim, um padrão. Todos nós apontamos para uma direção. Se por um lado, nossa feiúra nos distancia da imagem de Deus, por outro, nossa beleza remete à beleza Dele.

Isso me ensina muito sobre o desapego... Por mais que eu tente me apegar a algo que julgo próximo, palpável... Descubro que se trata tão somente de um padrão etéreo e volátil, um padrão terreno. E então volto à minha procura novamente e encontro Cristo.

Poderia terminar esta carta aqui. Estaria muito bem terminada.Mas quero lhe dizer: cada vez que você encontrar algo (hobbies, pessoas, objetos, prazeres...), cada vez, toda vez, lembre-se: esta coisa NÃO é o padrão. Esta coisa não tem em si nenhum, ou melhor, NEM SOMBRA de requisito para lhe servir de padrão. Não lhe trará consolo, paz, amor... NADA, NEM NINGUÉM que pereça pode servir de padrão para você. Fomos feitos à imagem e semelhança Dele. Nossa única razão de existir é Nele. Nosso único porto é Ele, pois Ele é o único eterno. Procure. Mas saiba que só há um lugar possível para sua existência.

NEle.