domingo, 10 de outubro de 2021

Sobre "Alta Fidelidade", a música e a vida

 



Ontem assisti "Alta Fidelidade". De novo. Lembro que quando vi a primeira vez, gostei muito, mas não sabia precisar muito bem por quê. Não que eu saiba agora, mas depois de viver as experiências que vivi, posso ter uma noção do porque vale a pena passar duas horas em frente a tela para conhecer esta história.


O título do filme no original é exatamente o mesmo e ele já dá uma pista de que o filme não trata apenas de relacionamentos, mas é também um filme sobre música. A história começa com Rob sendo abandonado por sua namorada, Laura. A cena se passa na casa de Rob e ele tenta demover Laura da ideia de ir embora a qualquer custo. Sua namorada não cede e deixa Rob com uma série de questionamentos, dentre eles por que essa situação se repete em sua vida. Assim, ele lista seus "top 5" términos e vai contando a história de cada um deles e cada um possui sua própria trilha sonora. Música e vida se entrelaçam, revelando o que está mais intricado nas personagens. Assim, cada relacionamento de Rob tem uma trilha sonora. E não só na trama, mas a música tem um importante papel no filme até mesmo pelo fato dele ser dono de uma loja de discos.


Ao se perguntar por que sempre acaba abandonado, Rob segue revisitando seu passado e também lidando com seu rompimento atual. Nesse caminho, ele descobre e revela muito de si. Ele se mostra um cara egoísta, com seus medos, obsessivo e chega mesmo a distorcer a realidade se vitimizando. Acredito que por isso mesmo o filme encanta. Não se trata aqui da heroína típica de comédias românticas dos anos 90, mas, sim, um homem, mal resolvido, com suas questões e seus medos. Por extensão, pode se tratar de qualquer pessoa real.


O filme fala também da vida. Rob projetava nos seus relacionamentos sua sede existencial, seu desejo de saciedade. E, revivendo cada um deles, Rob se descobre despido de qualquer coisa que o pudesse proteger e completar. No fim, Rob descobre que, mesmo diante da impossibilidade de saciar nossa sede em um relacionamento, ele pode viver para uma pessoa apesar das suas fraquezas. E aqui a música novamente se apresenta uma forte interlocutora, sinalizando com “I believe" de Steve Wonder que ter esperança é uma necessidade humana. Gostei muito desse final. Não que seja surpreendente ou inusitado. Mas ele mostra o quanto pessoas de verdade têm o potencial de recomeçar.