sábado, 2 de julho de 2022

Uma boa receita de rock

 




Certo dia, eu estava andando na rua quando olhei para a traseira de um ônibus. Na janela, uma propaganda de uma banda que parecia "cool", com um nome, no mínimo, curioso e de visual bem rock n' roll para os padrões da geração Z. Então, assim que alcancei a calçada, dei meus "googles" para descobrir que banda era aquela. Alguns links depois, percebi que já havia topado com eles, mas, na época, assisti um vídeo (vídeo "vídeo" mesmo) e pensei: "Ah, é igual Led Zeppelin". Sim, amigos... Estou falando de "Greta Van Fleet"!


Meu primeiro encontro com a banda não foi lá essas coisas como vocês podem supor. Os primeiros acordes até estavam me ganhando, mas quando Josh Kiszka abriu a boca, eu pensei: "Meu Deus, Robert Plant renascido!" e, na época, esqueci de fazer algo que um crítico jamais deve deixar de fazer: conhecer primeiro. Foi somente com a propaganda no ônibus que me interessei em investigar e saber como foi que meninos tão jovens resolveram fazer rock "dasantiga". E vamos nós!


Quase que inevitavelmente, a primeira coisa que me saltou aos ouvidos foi a voz de Josh.. Ouvi e ouvi e vi... Procurando, confesso, algumas "escorregadelas". Corrijam-me se eu estiver errada, mas acredito que ele seja autodidata no canto. De qualquer modo, o que ele nos apresenta é uma voz com invejável extensão vocal, de ótimo suporte respiratório e com um brilho que parece ter sido forjado nos ensaios de garagem mesmo. O garoto fez direitinho o trabalho de casa. 


E a guitarra? Banda de rock que é banda de rock tem que ter uma guitarra presente e, não raro, protagonista. E GVF tem. Ouvindo o Zeppelin e o GVF percebo que a guitarra do GVF é mais "sujinha", parece que tem um acento a mais de overdrive. É uma guitarra, por vezes, clássica. É uma assinatura da banda. 


O que dizer da composição teclado, guitarra e bateria? Nas faixas "Broken Bells" e "Flower Power" caiu como uma luva! Quase com um certo tempero de "The Doors" no teclado. Mas Sam (que assume tanto o teclado quanto o baixo) também alterna o tempero com uma boa dose de baixo regado a frases modestas, mas expressivas. Destaque para a faixa "Safari Song" que revela um lindo diálogo entre baixo, guitarra e bateria.


Para coroar, temos composições que parecem ter sido inspiradas nas raízes de blues e rhythm n' blues do rock n' roll mais "raiz". Quase como se os meninos tivessem se encapsulado em uma viagem no tempo e nos presenteassem  com uma mesa farta de belos timbres e acordes que conversam muito bem entre si. E sigo além, a música de GVF é pictórica. Ela nos descreve cenas e narrativas de um outro tempo, de outra esfera. É uma música transcendental. E aí, especificamente, neste ponto, encontro a maior semelhança com o Led Zeppelin. Mas, dizer que GVF é cópia do Zeppelin, pura e simplesmente, é limitar ambas as bandas. Se por um lado, Zeppelin tem faixas que flertam com a música indiana ("The Battle of Evermore", por exemplo), GVF tem todo um caminho pela frente ainda a dizer a que veio. Só posso dizer que até o momento, estou aproveitando.