sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O que te define?


Sábado passado quebrei meu "jejum" de meses e fui ao cinema. Em pleno jogo do Flamengo. Ruas vazias, estacionamento cheio de vagas, shopping vazio. Não fora o convite partir da minha mãe, feito para mim e minha irmã, eu não teria saído de casa. Não vou adentrar aqui meu gosto pessoal, mas, tirando Marvel e Star Wars sobra pouco do cinema norte-americano que me tire de casa.

Estou falando do mais novo filme "gospel", "Mais que vencedores". O título me remeteu diretamente à Teologia da Prosperidade e confesso que pensei: "mais um filme gospel de teologia reducionista". Ingressos comprados. Lá fomos nós.
A primeira coisa que me chamou a atenção no filme foi a ausência de histórias paralelas. O filme gira em torno de um mesmo núcleo e toda a trama se desenvolve a partir de um mote. Um treinador de basquete de una escola cristã se vê sem time de basquete para treinar. Sua diretora, então propõe que ele treine o time de "cross-country" da escola. Ele torce o nariz, mas aceita por não haver opção melhor. 

Outro ponto foi a trilha sonora. Nada exagerado, apelativo. Um momento de clímax e ela passa a ser somente mais uma personagem, por vezes, passa até por despercebida. Mas voltemos à teologia do filme. 

Ao contrário do que imaginei (felizmente), o filme fala muito mais de relacionamento com Deus do que sobre um pseudo conceito de vitória. É um filme que trata de mudanças a partir do relacionamento com Deus. É um filme sobre aquilo que nos define, sobre se deixar nortear pela direção de Deus.
Poderia muito bem encerrar por aqui e já teria dado o recado, mas preciso observar algo... Depois de "O quarto de guerra", "À prova de fogo" e agora "Mais que vencedores" chegando diretamente às telas de cinema será que poderíamos dizer que está se esboçando uma produção de filmes cristãos para a telona? Tal qual temos de outros gêneros? Eu arriscaria dizer que sim, mas vou esperar mais um pouquinho e ver o que acontece.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Debaixo do sol

Hoje estou com saudade do que ainda não vi. Saudades de sabores que não provei, momentos de eternidade que ainda não vivi.

Explico. Nascemos com um espaço, com um vácuo do tamanho de Deus. A bíblia diz que foi a eternidade foi plantada no coração do homem.

Nascemos com saudades do eterno. De uma vida que só Deus pode nos dar. Nascemos com um buraco do tamanho de Deus.
Há explicações diversas para a vida aqui, mas não quero pontuá-las. Quero dizer da perspectiva cristã. Nascemos com um propósito e aguardamos novos céus e nova terra onde viveremos felizes para sempre (de verdade) com Deus. Aguardamos a redenção, a resolução, aquela nota que fará com que a música até então orquestrada faça sentido. Cristo é a resolução.

Se aguardamos a resolução, fo que vale esta passagem que estamos atravessando? E é precisamente aí que está o ponto da minha reflexão hoje... Vivemos como que a ensaiar este encontro. Como que a dizer: parece que fui feito para outra existência, ainda que não saiba como ela é.

Em Eclesiastes, vemos como pode ser a vida da perspectiva "debaixo do sol". Vemos que a vida é curta, dura e incerta, mas o autor da obra também nos ensina a nos deleitar nos prazeres que nos são dados na vida debaixo do sol. Somos orientados a vivermos os prazeres dessa existência com gratidão, entendendo que estes apontam sempre para o Criador e não só isto: apontam para a vida que teremos com ela. E por isso digo: hoje acordei com saudade da vida que ainda não vivi.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Em homenagem à Maria

Bem, passado o dia das mães (e aniversário da minha mãe), venho aqui compartilhar minhas inquietações. Desta vez, reconheço, um tanto polêmicas, mas escrevo na esperança de elucidar nuanças da 2a melhor data de vendas do comércio.

No calor dos posts que fluíram no meu feed do instagram ontem, li várias postagens enaltecendo a mulher como mãe, divinizando seu papel e a colocando em um status muito similar ao da nossa padroeira. Uma vez ouvi de um professor, doutor em comunicação, que essa data era, em parte, tão celebrada no Brasil por uma associação inconsciente ao culto à Maria. Tive de concordar com ele.

Quais as consequências, ou melhor, o ônus dessa relação? Temos uma mãe divinizada, perfeita. Uma mãe que não fala palavrão e não peca. Não peca?! Aí mora o principal problema... Não a vemos como pecadora, como humana que é, mas como uma mãe sem defeitos. E disso decorre uma série de implicações. Uma delas é não distinguir seus atos e pensamentos.

Outra questão seríssima e igualmente delicada é a da esterilidade. Então "só quem é mãe é quem sabe" (como estava em uma das postagens) passa a ser "só quem concebe" ou "só quem cria"? Quando leio algo assim, me vem logo à mente um nome: Madre Teresa de Calcutá. E uma longa pausa. Deixa eu entender... "Quem concebe é quem sabe", mas e as que não concebem e cumprem seu chamado à maternidade, fazendo discipulos? Pergunto-me: Madre Teresa seria tudo o que foi se tivesse se casado e concebido? Meu ponto aqui segue além... E aquelas que conceberam e não foram mães? Aquelas que se recusaram, de alguma forma, a fazer discípulos, a criar e a formar? Entenda: nossas mamães merecem toda homenagem que pudermos oferecer a elas. A minha, então, merecia um pote de ouro, rss. A questão é: reduzir o chamado ao discipulado à concepção.

É preciso redescobrir o papel da maternidade, dentro dos propósitos de Deus, dentro do que a bíblia ensina como feminilidade. Voltemos a olhar para a mulher virtuosa e sabê-la virtuosa, mas também mãe e  pecadora, pois todos nós que estamos debaixo do sol, estamos na mesma condição.

É isso. Deixo a centelha luzindo...

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Gente humilde

Hoje algumas lágrimas que em mim há algum tempo habitam teimaram em sair e vagar pelo meu rosto. É a dor de uma perda. Perda de afeto, de cumplicidade, de convivência. Uma perda.

Enquanto estive na rua, debati-me em vão para que elas não saíssem, mas... foi só pisar em casa que desisti da luta e disse-lhes: vão, minhas meninas, desaguem no oceano da minha pele. E me entreguei. No meio da respiração ofegante, ouço o barulho da tv. No outro quarto, minha mãe via um jornal. Paro pra assistir por alguns minutos: histórias tristes. Gente que perdeu, gente que sofre. Pessoas com dor, com um coração que dói. E me pego pedindo a Deus por elas. Então concluo o óbvio: não sou a única que sofre. Senhor, acode. Senhor, ajuda. E lembro o que dizia a canção:

"São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar"
(Chico Buarque)

A diferença: eu creio.

quarta-feira, 27 de março de 2019

A vida


Mistério - Os Arrais





Desde que ouvi esta canção pela primeira vez, esta reflexão reside na minha mente. A vida é um mistério. Podemos observar suas consequências, seus fatores, mas é fato que a coisa em si nós não podemos sequer tangenciar. Nossos pensamentos não são sequer do tamanho de um grão de poeira para que possamos sentir o impalpável mistério da vida. Somos barro, pó, sopro. Ainda assim, em nosso coração foi plantada a eternidade. Como pode algo de tamanha finitude relacionar-se com um ser eterno. Deus em Sua infinita misericórdia nos fez desejosos da eternidade. Nos fez desejar a vida, ainda que sejamos barro. Somos peregrinos aqui. Somos, como Jó, seres a quem cabe arrepender-se no pó e na cinza.

Fico por aqui nestes punhados de pensamentos... Muito mais a dizer se acrescentar a melodia da canção... Que me parece, com suas "pseudo resoluções" (na verdade, as notas apontam para uma resolução ainda que não sejam óbvias, vocês entendem? rs) apontarem também para o infindo... O que não se conclui: "o que é já existiu, e o que há de ser também já existiu, Deus trará de novo o que já passou" (Eclesiastes 3:15)

sábado, 2 de março de 2019

O trono

"O túmulo está vazio. O trono, não" (Ziel Machado)
Quando uma criança conversa com outra criança, ela olha para o lado. Mas quando temos uma criança conversando com um adulto, aquela vai, certamente, precisar olhar pra cima para poder lhe olhar nos olhos. Da mesma forma, um adulto, quando olha uma criança, precisa olhar para baixo.

Nosso olhar sobre o caos que nos cerca e por vezes, mos invade não precisa ser engessado. Para se olhar de outra perspectiva, é preciso que se reconheça a necessidade para tal e que se queira mudar esse olhar. Deus nos move a fazê-lo. Se o Pai não nos der uma boa chacoalhada, nosso olhar será sempre o mesmo e não enxergarmos nossas vidas nem o mundo da perspectiva do trono. É desse lugar que João, preso, é convidado a olhar o mundo a sua volta: um mar agitado e revolto, mas que obedece a voz de um Deus soberano e poderoso. É na tempestade que sua mansa voz acalma o mar e ganha a perspectiva que tem de fato: poder e grandiosidade.

Precisamos aprender a ouvir essa voz mesmo quando o caos nos invade. Deus não somente acalma a tempestade, nos dá paz em meio a turbulência, mas Ele nos ensina que um Deus bondoso, poderoso e soberano está no controle de tudo. E Ele está conosco.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Apenas uma abstração

Tanto quanto baste. Nem muito para que eu me acostume com tua ausência e tu te dissolva em algumas lembranças etéreas. Nem pouco ao ponto de estar ainda turva a tempestade de areia que se instaurou entre nós. Mas que seja no momento exato, no fio da navalha e cerre de cima a baixo o lixo que nos separa.

A mais bela canção

Estou no deserto. Então vá se acostumando com minha presença por aqui. Ora um pássaro pia ao norte. Ora um corvo anda a espreita. Nas duas situações, me resta confiar. Voltar os olhos para o monte de onde me vem o socorro. Ele que não dormita nem dorme sabe. Eu não sei. Você não sabe. Mas Ele sim. E Ele vem. Vem ao meu encontro. Vem me socorrer. Estende as mãos e diz: "eu entendo". "Eu entendo o que ninguém mais pode sequer imaginar, mas eu entendo". Sinto como se uma água fresca, um perfume de jasmim penetrasse meu interior: "eu entendo". E cessa a inquietação. Assim, como quem pisca, como quem sonha com flores e acorda segurando uma orquídea. Nenhuma canção jamais soaria tão bela: "eu entendo".

A mim... Só resta confiar. Só resta agradecer. Sim, porque Ele entende. Ele sabe. E sigo na minha montanha russa do coração, mas sabendo que sempre que estiver lá em cima achando que vou despencar, saberei: "eu entendo".

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Sobre mágoas

Se pudesse lhe falar...
Diria que todos temos nossas fragilidades. Tenho as minhas. Cometi os meus erros. Não fujo deles. Compreendo-os como parte da minha história, com os quais devo aprender.
Não lhe direi: eles se foram. Não. Eles estão sendo ressignificados, perdoados por Deus.
Nossa ira é fraudulenta. Não se deixe guiar por ela. Ela é enganadora, mesquinha...
Nossas mágoas e dores, lançamo-nas aos pés da cruz, que é o melhor lugar para elas.
Você se enclausurou. Encontra-se em um lugar em que não posso penetrar, um lugar inacessível, um lugar de pedra.
Se meu erro foi colossalmente imperdoável (penso que não foi) ou passível de misericórdia, não lhe cabe julgar, somente a Deus. E Este, meu amigo, Este mesmo que a todos pode julgar e condenar, me absolveu. Portanto, não te cabe me condenar.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Carta a um incrédulo

O que vou escrever aqui é fruto de vivências, sofrimentos e, em particular, de alguns problemas de relacionamento interpessoais que me ferem. Estamos no deserto. Estamos a procura da estrela do oriente para que nos guie e nos leve aonde devemos estar. Nem mais longe, nem mais perto: exatamente onde devemos estar.

Preciso escrever uma carta. É uma carta para alguém incrédulo. Segue o texto.

Eu sei. Você não acredita mais. Você entrou no barco sem saber muito bem para onde ele ia, mas cá está. Vê-se em posição desconfortável, incômoda. "Não vim para que tenham paz". Se você acha que minha presença na sua vida é para lhe fazer mais feliz, para lhe dar paz... Bem, eu sei que sua presença na minha vida não é para isso. Posso até encontrar felicidade, alegrias, um certo sossego em algum relacionamento, mas... Certamente, o outro nunca será um "match" para meu padrão. Nunca ninguém se equipará ao meu padrão. Somos todos exigentes nesse sentido. Queremos todos felicidade plena, beleza plena.

Preciso ser honesta: esta felicidade plena não está em mim. Não está em você. Não está em qualquer outra pessoa porque... Somos reflexos. Reflexos! Pura imagem do que outrora fora pleno e belo ainda que sendo imagem. Não somos um fim em nós mesmos. Somos (ou deveríamos ser) placas sinalizadoras. Apontamos para o único ser supremo e pleno em amor que é Deus ou... Apontamos para a direção de tudo que não é Ele. Estamos sempre nesse jogo. Estamos sempre ora apontando para Ele, ora nos desfigurando.

Já teve a experiência de ganhar um objeto de decoração ou mesmo uma bolsa e fotografá-lo assim que ganhou e também muitos anos depois? Algumas coisas ficam tão diferentes que olhamos e pensamos "esta não é mais a bolsa que ganhei". Esta bolsa, este objeto perdeu a referência. Perdeu a beleza que espelhava outrora. Mas... Permita-me relatar uma experiência diferente.

Quando criança ganhei de minha mãe, um palhacinho. Um boneco de cabelos curtos de lã amarelo e muito gracioso. Lembrança cara de um momento feliz. Estávamos na Alemanha e eu passaria meu aniversário lá. Tenho este palhacinho até hoje (sim... Algumas coisas eu guardo! rs). Obviamente, não tem o mesmo viço de antes, mas... Curiosamente e muito curiosamente, olhar para ele me leva a contemplá-lo e, ao contemplá-lo, recupero em minha mente todos os momentos em que ele me serviu de consolo, de alegria. Algo peculiar acontece: ele se torna tão belo quanto antes.

A questão é que não somos padrões. Não somos os próprios padrões que criamos ou que gostaríamos de ser. Ao olhar para o outro, precisamos ver que este outro não é e nunca será nosso padrão. A boa notícia é que há, sim, um padrão. Todos nós apontamos para uma direção. Se por um lado, nossa feiúra nos distancia da imagem de Deus, por outro, nossa beleza remete à beleza Dele.

Isso me ensina muito sobre o desapego... Por mais que eu tente me apegar a algo que julgo próximo, palpável... Descubro que se trata tão somente de um padrão etéreo e volátil, um padrão terreno. E então volto à minha procura novamente e encontro Cristo.

Poderia terminar esta carta aqui. Estaria muito bem terminada.Mas quero lhe dizer: cada vez que você encontrar algo (hobbies, pessoas, objetos, prazeres...), cada vez, toda vez, lembre-se: esta coisa NÃO é o padrão. Esta coisa não tem em si nenhum, ou melhor, NEM SOMBRA de requisito para lhe servir de padrão. Não lhe trará consolo, paz, amor... NADA, NEM NINGUÉM que pereça pode servir de padrão para você. Fomos feitos à imagem e semelhança Dele. Nossa única razão de existir é Nele. Nosso único porto é Ele, pois Ele é o único eterno. Procure. Mas saiba que só há um lugar possível para sua existência.

NEle.