quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Espelhos

Vejo na tua dor, a minha. E na minha dor, a tua.

Vivemos na era do "autismo emocional". Como bem disse um filósofo desta era pop, quando um chega para o outro e diz algo como "estou com gastrite", seu interlocutor retribui: "e eu, com úlcera ". O que está acontecendo?

Há quase nenhuma empatia entre nós, há quase nenhum "você também! ", como disse C.S. Lewis. Conversamos  com "outro", sendo que o "outro" é nosso próprio umbigo, é nosso eu. Vivemos como que em espelhos, enxergando reflexos e conversando conosco mesmo.

A difícil arte de dialogar. Dia = através. Logo = palavra. Tua palavra me penetra, percorre meu ser e me transforma. Essa transformação produz em mim um desejo de reagir e gera um pensamento que traduzo em palavras e as expresso para que você o entenda (ou não).

Não existe comunicação sem empatia. Não existe empatia sem amor. Que Deus nos ensine a amar, a nos solidarizarmos e então devemos recorrer a Paulo: "Alegrai-vos com os que se alegram. Chorai com os que choram."

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Reencontro

E então aqui
Fizeste-me ver novamente
O mesmo semblante
Neste instante
Reencontro

Reverbera o mesmo som
A mesma nota
O mesmo anseio, vontade
Verdade
Alívio
Saída
Cura

E converso com o salmista
Ora "elevo os meus olhos"
Ora emudeço em silêncio e a minha dor se agrava
E minha mente adoece

Uma voz, aguda, fraca
Uma senhora de bengala
Em todo seu fôlego grita
Pra que só eu consiga ouvir:
O castigo, o castigo...
É nossa paz
As pisaduras, pisaduras...
Nos curaram

E volto ao meu reflexo
Vestígios de dores
Temores
Que mudam de rosto
E saem do meu
E minhas rugas,
Que desde muito,
Pertencem ao Teu

E no meu rosto, minhas angústias
E nelas, Teu rosto