quinta-feira, 8 de abril de 2021

R$ 25 o quilo do camarão e a eternidade

 Hoje saí para comprar duas peças de mármore. Preciso fazer uns consertos no apê e as peças são fundamentais. Então pesquisei algumas marmorarias na internet, liguei e a primeira, de cara, me deu um ótimo orçamento. E me pus, em plena tarde carioca, na rua para comprar as tais peças.

Cheguei no lugar e parecia, de fato, como dizer… Uma espécie de oficina? Barulho alto, lugar pra estacionar e, escada acima, o atendimento. Comprei as pedras e, como fui informada de que poderia retirar no mesmo dia uma hora depois, saí pra dar uma volta. E nesse ponto eu vou tentar parar de narrar uma tarde ordinária, não muito quente e, de certa forma, enfadonha. Não, leitor, vou pular a parte que me diverti com os chás que escolhi no mercado local, que tomei um açaí (na rua, claro) e nesse meio tempo troquei uns whats com um amigo. Pra que acrescentar isso ao texto? Que graça tem? Seria interessante dizer que achei o bairro nada amistoso para pedestres ou que percorri algumas farmácias procurando um suplemento em falta para minha mãe? Nada! Carros vão e vem. Pessoas atravessam, se arriscam no sinal. Sacolinhas de plástico são distribuídas para os clientes. Obras acontecem. Tudo tão corriqueiro, tão ordinário. Tudo o mesmo. O mesmo ritmo, o mesmo tempo debaixo do sol. 

E volto a contar o que aconteceu. Voltei à marmoraria. Peguei as pedras (pesadas que estavam!) e pedi um carro de aplicativo para voltar para casa com o “pacotinho”, leve, leve… Chegou o carro e entrei. Tentei resolver um pagamento com afinco e muita concentração, porém sem sucesso. O boleto, com o código de barras todo arranhado, não poderia ser lido de jeito nenhum. Foi quando eu desisti do pagamento e ouvi o bordão: “É 25, é 25, é 25 o quilo do camarão”. E aquilo me chamou a atenção. Como?

Preciso respirar um pouco antes de me explicar… O carro do camarão me “despertou” do boleto? Sim. Minha mente mudou o foco e de repente vi camarões a minha frente, sendo preparados, cuidadosamente tratados e pensei egocentricamente: “Por que quero camarões? Eu nem mesmo sei prepará-los? Nem saberia escolhê-los…” e algo me libertou da importância do carro do camarão: se, de fato, como alguns cientistas dizem, Andrômeda se chocar com a Via Láctea, que diferença faz saber ou não fazer o camarão? Mais ainda: que diferença faz comprar o camarão ou não?

O camarão apodrece. E apodrece até rápido. A diferença entre o camarão, o carro do camarão e nós é só uma questão de tempo. Nós duramos um pouquinho mais. Como diz o salmista “a vida do homem é semelhante à relva”. Nasce, cresce e morre. Então… Qual é a graça?

A graça não está em nós, mas Naquele que tudo criou. Ele, sim, é eterno. Ele, sim, faz o carro do camarão ter seu propósito no mundo. Nele todas as coisas existem e se fazem necessárias. Daí, penso: melhor eu aprender a fazer camarão. Vai que um dia dá vontade de comer?

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