segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"O fim de uma era": diálogos possíveis

Car@s,

Terminei a leitura de O Fim de uma Era, do Bispo Walter McAlister. Mal sei por onde começar a falar do livro. Confesso que, por vezes, o autor me surpreendeu. Outras vezes, discordei e me vi em um lugar comum.

O livro, como diz a capa, é "um diálogo crítico, franco e aberto sobre a igreja e o mundo nos dias de hoje". Concordo. Há momentos em que a honestidade do diálogo me surpreendeu e me emocionou. Aqui cabe uma outra confissão: como pertenci a uma Igreja Cristã de Nova Vida a anos atrás (na época, Igreja Pentecostal de Nova Vida, sem divisões), peguei o livro cheia de ideias fechadas e formatadas a respeito do conteúdo. Eu o li, dialogando com o texto e meus preconceitos. Isto posto, consideremos o livro em si.

Quando se escreveu "diálogo" na capa, não entendam por metáfora. O formato da obra é de uma entrevista dividida em dez partes mais as considerações finais do Bispo. Nesta divisão, o livro trata de vários temas que vão da Igreja e sociedade, ao trabalho de um sacerdote (o pastor, por assim dizer), o movimento pentecostal e neopentecostal, família e entra em questões mais polêmicas como homossexualismo, escândalos e teologia da prosperidade (para não citar outros). Basicamente, isto. Foi instigante ler. O autor, uma das figuras mais proeminentes do pentecostalismo brasileiro da atualidade, coloca no texto seus posicionamentos de forma honesta e aberta, sem medo de críticas.

Do que pude perceber, me incomodaram, no entanto, um pano de fundo em particular e algumas intervenções do entrevistador. Explico. Não é ensinada como doutrina na ICNV a "graça comum". Explicando rapidamente, a "graça comum" de Deus é aquela que alcança todos os homens e que, em contraste com a "graça específica" (ou salvadora), faz nascer o sol sobre justos e injustos. Enfim, isso muda radicalmente nosso ponto de vista quanto ao mundo. Nos faz olhar com graça o homem e sua cultura. Longe de dizer que todos os homens são justos e que suas produções constituem obras perfeitas, mas o fato é que isto nos faz olhar os homens de forma diferente da que olharíamos se nos baseássemos pela suas obras somente. Pois bem. Até onde pude observar, há momentos em que fica evidente no livro aquela velha divisão "Igreja" vs. "Mundo" enquanto a complexidade dessa divisão vai além. Como na visão de Pedro com todos aqueles alimentos considerados impuros dispostos em um lençol para que Pedro se alimentasse (Atos 10:9-16). Outro ponto que deixou a desejar diz respeito à participação do entrevistador. Algumas perguntas óbvias demais, deixando passar pontos mais complexos e reveladores. Suas questões ilustram também um modo de ver "preto no branco", talvez por seguir a linha conforme argumentado acima a respeito da graça comum.

Quero destacar, ainda, dois pontos que estão nas considerações finais da obra. Vejamos o que o autor diz sobre a Igreja:

"A Igreja continua sendo serva de sua cultura. Precisamos decretar a independência deste mundo e do sistema mundano e servir a Deus somente; servir a Ele nos parâmetros que Ele define. Isso nos traz o grande desafio, uma espécie de história a mais." (p. 304, grifo meu)

Esse parece ser um dos pontos nevrálgicos do texto: a situação da Igreja na atualidade. Ao meu ver, entender que ela é serva de sua cultura é enxergar só um lado da moeda. Mas talvez, ao encarar a realidade de como vão a maioria das igrejas em relação à pregação do Evangelho, não restem muitas opções sobre o assunto. Ainda assim, é preciso entender que cada igreja está inserida em um contexto cultural e que dialoga com ele. Vale a convocatória do entrevistado aqui para dizer que precisamos servir a Deus "nos parâmetros que Ele define".

Um último trecho que gostaria de destacar trata do que o próprio Bispo fala a respeito de toda sua conversa:

"Não chamo todos para um diálogo comigo. Chamo para um diálogo, primeiro, interior; depois, com a Palavra; e, finalmente, de um com o outro. Será que o que estamos fazendo é certo? Será que o que acreditamos ser certo é certo? Ou será que perdemos o bonde? Para que viver na crista da onda se a onda está indo na direção errada? Tenhamos a coragem de nadar contra a correnteza." (p. 305, grifo meu)

Em consonância com a capa, o livro encerra propondo um diálogo ao leitor. Um diálogo que não se fecha, mas se desdobra em várias outras questões e nos faz perguntar se estamos, como o autor diz, "nadando contra a correnteza" e de acordo com os parâmetros bíblicos. Nos resta mergulhar.









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